Trump, again: apreensão e resistência

Ano V, nº 92, 27 de dezembro de 2024


Por Leonardo Ferreira, Michele Ferreira de Oliveira, Gabriel Soprijo (Imagem: Unsplash)


Em 2016, o republicano Donald Trump foi eleito o 45º presidente dos Estados Unidos da América, após derrotar a democrata Hillary Clinton na disputa presidencial. A vitória do republicano para um segundo mandato, no último mês, volta a gerar apreensão entre governantes da oposição e representantes da sociedade civil, e novos embates são esperados.

 

Com o slogan Make America Great Again – MAGA (Tornar a América Grande Novamente), os discursos e propostas de Trump, antes e durante o seu primeiro mandato (2017-2020), divulgavam conteúdos racistas, xenofóbicos, misóginos e críticos à democracia, além de descrentes em relação à crise climática global. Uma das principais propostas de campanha do republicano, no âmbito das políticas de tolerância zero com imigrantes, foi o combate à imigração nos Estados Unidos e a promessa de construção do muro na fronteira com o México.


Suas propostas de governo excludentes e separatistas se tornaram a força motriz para a intensificação da atuação, dentro e fora do país, de setores governamentais da oposição e, principalmente, de representantes diversos da sociedade civil (como movimentos sociais, redes de ativismo e ONGs), com destaque para o Black Lives Matter (BLM). Apesar de existir desde 2013, o movimento antiracista ganhou ampla repercussão após o assassinato de George Floyd pelo policial Derek Chauvin, em maio de 2020. Os amplos protestos contra o preconceito e a violência policial investida contra as pessoas negras, influenciaram tanto mudanças na legislação sobre a atuação policial quanto a derrota de Trump, em 2020.


Por sua vez, os protestos contra a política de tolerância zero imigratória na fronteira sul do país, que levou à separação de pais e filhos pequenos por tempo indeterminado, fizeram com que juízes da Califórnia ordenassem o executivo a reunir as famílias deportadas, com foco naquelas que contavam com a presença de crianças menores de 5 anos. Também foi possível observar manifestações contrárias à continuação do mandato em importantes cidades como Nova Iorque, Seattle, Boston e Los Angeles, com a agitação se desdobrando em perdas de cadeiras dos republicanos nas duas casas do Congresso americano.


Apesar da atuação deste e outros movimentos sociais ativos e combativos, entretanto, o republicano foi reeleito no mês passado, novembro de 2024, após derrotar a candidata do partido democrata Kamala Harris.   


O segundo governo de Donald Trump, que se tornará o 47º presidente dos EUA, promete fortalecer novamente a direita internacional, alinhando políticas conservadoras e nacionalistas com outros líderes e movimentos semelhantes pelo mundo. Internamente, o presidente reeleito planeja intensificar a deportação em massa de imigrantes e reduzir os impostos sobre os mais ricos e as grandes empresas. Espera-se, além disso, que o presidente responda ao apelo das bases conservadoras nos Estados Unidos com o estabelecimento de novas medidas de restrições relacionadas aos direitos reprodutivos das mulheres, incluindo a proibição total do aborto.


Além disso, o segundo mandato de Trump provavelmente será marcado por uma política de isolacionismo e unilateralismo, contrariando os esforços de maior cooperação internacional em torno dos grandes problemas da humanidade. Trump vai na contramão, portanto, daquilo que foi decidido no recente encontro do G20 ocorrido nos dias 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro. Como desdobramentos deste fórum de cooperação internacional econômico que busca estabelecer diálogo entre os países desenvolvidos e emergentes, todos os líderes presentes assinaram a declaração final, ressaltando a importância da colaboração entre os diferentes países no combate às desigualdades, à fome e à crise climática.


Por esses e outros fatores, a vitória de Trump traz apreensões entre os setores governamentais mundo afora, e trouxe um sentido de urgência para movimentos e organizações sociais que atuam em prol dos setores subalternizados que, historicamente marginalizados e inferiorizados, foram bastante prejudicados no mandato anterior. 


Em 6 de Novembro, dia que a vitória foi decretada, o Ministro da Economia brasileiro Fernando Haddad declarou: “o dia amanheceu mais tenso”. Em grande medida, esta percepção deve-se às declarações de Trump sobre o aumento de tarifas em diversos produtos importados, que de acordo com o  professor Kai Enno Lehmann, do Instituto de Relações Internacionais da USP, prometem acirrar as disputas entre os EUA e a China e, também, com países da União Europeia. Em carta lida ao povo mexicano no dia 29 de novembro, a presidenta do México Claudia Sheinbaum retrucou: “uma tarifa será seguida por outra em resposta”.


O governador da Califórnia, Gavin Newsom, já declarou que irá aumentar os recursos para manter as políticas de apoio às comunidades LGBT e de imigrantes no Estado. Anúncios semelhantes foram feitos por governadores e promotores de Nova York, Illinois, Oregon e Washington.


Universidades americanas, como a Universidade de Yale, aconselham que alunos e funcionários estrangeiros que estejam no exterior, retornem ao país antes da posse presidencial em 20 de janeiro de 2025. Este pedido se fez necessário após Trump prometer acirrar ainda mais as políticas contra imigração no país por meio de criação de campos para retenção de imigrantes ilegais enquanto esperam serem deportados. A estimativa, segundo o Higher Ed Immigration, é de que cerca de 400 mil estudantes em situação irregular estejam matriculados em instituições de ensino no país, sendo a grande maioria por visto expirado.


Como forma de frear ou conter minimamente as políticas racistas, de acirramento das desigualdades e de fortalecimento da extrema direita aguardadas para 2025, as organizações nacionais e internacionais da sociedade civil deverão retomar a luta contra o racismo, a favor da justiça social e pela construção de um projeto político emancipatório. A resistência, que permanece viva, deverá se renovar diante de novos contextos e ameaças.


 

Referências

 

BBC NEWS. Como três mulheres criaram o movimento global Black Lives Matter a partir de uma hashtag. G1, 20 de dez. de 2020. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/12/20/como-tres-mulheres-criaram-o-movimento-global-black-lives-matter-a-partir-de-uma-hashtag.ghtml>. Acesso em 24 de nov. de 2024.

 

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Agência Brasil. Movimentos sociais fazem protestos contra as políticas migratórias de Trump. José Romildo, 10 nov. 2016. Disponível em:https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2016-11/milhares-de-pessoas-protestam-nos-eua-contra-politica-racista-de.  Acesso em: 01 dez. 2024.

 

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